28 fevereiro 2008

ele:
me conta

eu:
o que?

ele:
sobre você

eu:
mas você já decorou tudo sobre mim

ele:
sim
mas quero esquecer...e decorar de novo

eu:
isso foi bonitinho.


óóóóón. babei.

26 fevereiro 2008

Eu pensava à respeito dos relacionamentos mal acabados. Tentava saber o quê mais me dava saudade das pessoas. Se eram os carinhos, o primeiro convite para sair, a primeira mensagem sentindo saudade. Mas não eram. Eram suas nucas.
Não muito tempo atrás um certo sujeito costumava ser a engrenagem do meu mundo, agora eu já não consigo lembrar da sua risada. Ou sequer dos seus olhos. Mais sua nuca, está aqui na memória, intacta.
Lembro-me das mãos, dos pés, e das palavras indelicadas. Mas da nuca mais de qualquer coisa.
E foi então que um amigo me disse:
-É isso explica muita coisa. Acho que você consegue amar qualquer coisa que tenha pescoço, e por sua vez, nuca.
É, explica muita coisa mesmo.

23 fevereiro 2008

A Açougueira e o Poeta

Era tempo quente
Num dia em que eu jamais deveria ter saído - da cama, do quarto, de casa -
Que te conheci.

Um homem eloqüente e mirrado
Endeusa tuberculosos e alcóolatras mortos há centenas de anos
Cheio de idéias e sem uma gota de disposição:
um pamonha.

Danem-se tuas firulas de amor perdido,
Cresça, homem:
Se viver de palavras vai morrer de fome.

E aviso agora ao rancoroso (aliás, sentimento esse que alimenta tantos dos teus escritos):
Não me considere mulher sem sentimentos!
Tenho muitos e os tenho fortes,
Mas além deles - no que sou teu oposto -
tenho outras coisas do que me ocupar.

Tanto tenho coração e sangue quente,
que me dispus a escrever em versos
aparentemente a única linguagem que entendes:

Poeta,
- se desistir da vida ao ler estas linhas, por favor não faça muita sujeira ao se matar -
És nada mais que uma grande piada,
Um "causo" digno de uma mesa de bar.

19 fevereiro 2008

Quando pequena, tudo que tinha necessidade de esconder costumava esconder na gaveta de meias. Diários, recortes, cartas, doces. Pela certeza que alguém sensato nunca procuraria nada importante na gaveta de meias, afinal continha apenas meias, ninguém procurava nela algo surpreendente.
Ainda hoje o faço, confesso (isso não te dá liberdade para abrí-la quando chegar aqui, lembre-se!) Deixou de ser uma gaveta, agora é meu porta desculpas. E de menos importante, tornou-se a mais memorável dentre as minhas 15.
Ando pensando em criar um topo falso de meias, pois dá muito trabalho guardá-las por cima de tudo, e encontrar as coisas, mesmo me desfazendo de algumas meias para sobrar mais espaço. Mas então ela deixaria de ser de meias, e seria como as outras 14, uma gaveta de bagunça (não que já não seja). Talvez acabe inaugurando uma segunda, que logicamente levantará suspeitas.
As flores secas, os poemas, as passagens de julho, os retratos de nanquim, os extratos do cartão de crédito, o mapa da cidade que ele me desenhou, o cartão mais bonito que já recebi. Tudo isso não vai diminuir. Vão me tomar cada vez mais espaço, na gaveta e na memória.
Por favor, alguém me dê uma idéia, ou uma gaveta com chave.
Agradecida desde já.

18 fevereiro 2008

Das grandes datas, grandes acontecimentos, os detalhes sempre me escapam.
O que me marca é o cotidiano.

O que é digno dos livros de história, que lá permaneça:
pouco me importa a cena hollywoodiana do nosso primeiro encontro,
mas sim como - a pouco e pouco - ficou impossível não te encontrar.

De pele que já não tinha mais função se não encostada na tua,
de pequenas febres noturnas à tua ausência,
dos minutos infinitos em tantos abraços, dos beijos nunca suficientemente repetidos:
o que marca, por ser tão corriqueiro quanto essencial.

Não se faz uma vida só de grandes eventos, a pompa dos aniversários hora ou outra enfada.
Mas do teu sorriso sonolento pela manhã - dia após dia, como sobremesa antes mesmo de levantar da cama;
dos teus braços na minha cintura - como se lá, e mais nenhum outro lugar, os pertencesse -
disso pode-se viver.
Leve, sem os vestidos longos e penteados rebuscados das cerimônias,
Leve, no abandono aliviado de quem caminha descalço na areia.


Meio a meio da gaveta de meias.